terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Desabafo de uma catarinense e brasileira!

Li esse texto da Urda Klueger que, além de ser uma grande escritora catarinense, é blumenauense e, atualmente, uma desalojada em virtude das chuvas que caíram aqui no estado em novembro do ano passado.

Esse relato verídico nos dá uma noção de como está a situação no Vale do Itajaí agora, pouco mais de dois meses após da tragédia. Eu estive em Blumenau no dia da manifestação a que ela se refere e também em inúmeras outras vezes, sempre a trabalho. Participei de uma audiência pública com a população e tenho acompanhado de perto o sofrimento dessa gente, da minha gente, destes brasileiros!

Não é fácil. Para mim, como jornalista, às vezes é revoltante ver as duas faces da moeda. É preciso reconhecer que o Governo do Estado (o qual nas últimas eleições não vi alternativa e me recusei a votar - passando por cima de uma questão ética pessoal, mas priorizando o princípio de querer o melhor para Santa Catarina), vem fazendo muita coisa em prol da população atingida. É claro, no caminho sempre esbarramos na politicagem que escolhe o por quê um município receberá mais casas que o outro em decorrência do partido do prefeito, ou ainda de uma prefeitura que não repassa os dados porque não é aliada do Governo. Mas a "grosso modo", o governo catarinense vem dedicando empenho e força na resolução da questão. Pelo menos da moradia, que é a que tenho visto de perto.

Entretanto, o dinheiro prometido pelo Governo Federal ainda não chegou aos cofres catarinenses! Pasmem! Eu pergunto: Como uma situação tratada por CALAMIDADE é levada com tanta MOROSIDADE por NOSSOS REPRESENTANTES?! Lula prometeu a verba, mas até o momento só liberou o FGTS, que é um DIREITO DO TRABALHADOR! Ou seja, não fez mais do que a sua obrigação. Há quem diga por aqui que esta será a atitude máxima tomada por Brasília. E eu estou vendo como o Governo do Estado vai, praticamente toda semana, até o Planalto Central reivindicar o repasse do montante anunciado. A desculpa é sempre de que estão analisando os casos, ou de que a quantia ainda está passando por todos aqueles trâmites da nossa famosa "burrocracia". Eu tenho minhas dúvidas de que seja só isso... e começo a fazer parte dos incrédulos, o que é muito triste!

O dinheiro recebido para a construção de casas vem das doações angariadas através de campanhas organizadas pela iniciativa privada. Precisamos construir mais de 6 mil casas para sanar o problema oriundo das chuvas e a verba (muito bem-vinda) doada até o momento nos permite erguer 700...

Acho que está na hora da população que doou para SC e também de todos os que pagam os seus impostos e assim abastecem o cofre federal, começarem a cobrar o repasse do dinheiro. Esse, no meu entender, é o primeiro passo para a posterior concretização das obras necessárias para devolver a dignidade à nossa gente!

De qualquer forma, fica aí um desabafo verdadeiro e maravilhoso da brasileira e catarinense, Urda! Vale à pena ler até o fim!

"EUROPA BRASILEIRA

Ontem minha cidade de Blumenau foi diferente. De repente, saído de todos os seus esconsos (pois a imagem bonitinha de Europa Brasileira que se mantém QUASE preservada no centro, com fundas camadas de maquiagem, como aquelas bisavós que querem continuar parecendo gatinhas de vinte anos), uma população inteira de desvalidos saiu e até fugiu dos abrigos públicos mantidos nas escolas do município, e veio para praça pública. Quem era essa gente?Eram os trabalhadores de Blumenau, aqueles que passaram grande parte das suas vidas trabalhando para fazer a sua casinha, e que a construíram, a pintaram, a muraram, fizeram jardins, esticaram redes nas varandas para melhor poder conversar com suas mulheres ao por do sol, que nelas criam ou já criaram seus filhos, que tinham aqueles lugarzinhos bonitos, com cortinas na janela e roseiras perto da cerca – e que de um momento para o outro viram a terra desmilinguir, virar gelatina se liquefazendo, e suas casas irem embora dentro de mares de lama, tantas vezes levando junto entes queridos ... e que acabaram nos abrigos públicos de que já falei acima.

Eu fiquei tão perdida no tempo desde que tudo começou que já não sei desde quando eles estão lá (e eu estou aqui, pois também sou uma desalojada), mas sei que foi logo a seguir do dia 20 de novembro. 21? 22? 23? Já não sei, e também não importa o dia, pois dia se emenda em dia, e semana em semana, e agora já está começando o terceiro mês desde que tudo começou – e os trabalhadores da minha terra continuam jogados nos abrigos, sem nenhuma perspectiva de terem sua dignidade restaurada, e com a ordem de desocuparem os abrigos até semana que vem.

As injustiças são tantas e que a gente ouve a cada hora, que é uma coisa arrepiante. O Brasil e o mundo mandaram tantos donativos para cá que ficará difícil gastar tudo, mas alguém fica com muita coisa no meio do caminho. Sei de um abrigo onde há mais de mil sabonetes amontoados numa sala, mas que a pessoa que coordena o abrigo não dá sabonete para determinado abrigado que dele necessita, porque não lhe tem simpatia pessoal. E eu sei bem o quanto esse desabrigado é útil ao seu abrigo; como trabalha, ajuda, limpa, prepara comida ... que será que leva essa chefia de abrigo a ter tanta antipatia? Será que é porque não são da mesma etnia? Olhem os guetos se formando na Europa Brasileira!

As histórias são inúmeras, desde aquele sargento que, faz poucos dias, proibiu a carne para os adultos de determinado abrigo, liberando-a só para as crianças – quando todos sabem que há um congelador chapadinho de carne lá na cozinha, que veio das tantas doações que todo o país mandou. E as roupas sujas de menstruação que se deram às pessoas do abrigo tal, para que as usassem (nada havia sido salvo das suas casas), enquanto gente do Brasil inteiro mandava roupas novinhas novinhas... Começa a pergunta: quem ficou com tantas coisas? E um diretor de escola que resolveu tratar logo os abrigados como porcos: picou aipim com casca e tudo, e misturou um bocado de carne, e sem sal, sem tempero, sem preparo, cozinhou aquela gororoba e só não mandou servir em gamelões porque deve ter ficado com vergonha. E outro diretor de outra escola, que se sente o dono do abrigo (a escola é publica, construída com legítimo dinheiro do contribuinte, e o diretor é um funcionário público, com o salário pago com os impostos daquela gente que está lá desvalida) e que não permite coisas básicas, como pais que vêm de longe para saber a sorte dos filhos, e sequer podem entrar lá para falar com os mesmos... e um outro chefe de abrigo, que vergonhosamente faz com que cada abrigado seja revistado pelos soldados lá de plantão, mesmo que o abrigado tenha apenas ido até à esquina comprar um pão.

A lista das humilhações e falta de respeito é tão grande que nem pensaria em tentar coloca-la aqui. Mas taí uma amostra. E mesmo assim, esses trabalhadores da minha cidade terão que deixar o abrigo dia 30.01. Muitos e muitos já acabaram desistindo dos maus tratos e das humilhações e indo para a casa de amigos, ou voltando para as zonas de risco, assinando documentos em que se declaram auto-responsá veis pelo que vier acontecer, caso algo lhes acontecer nas zonas de risco. Eles têm que se ir, sumir; a vida nos abrigos tem que ser a pior possível, para que os moradores desistam, sumam das estatísticas – é bem diferente construir mil casas do que cinco mil casas – sobra um dinheirão para os bolsos não sei de quem.

Pois é, gente, deve ser por aí. Sei de algumas coisas: o Governo Federal colocou 1 BILHÃO e 700 milhões de reais à disposição dos atingidos – é um dinheiro ENORME. Sei que tal dinheiro abrange, também, construção de pontes, rodovias e correlatos, mas sobra MUITO dinheiro para construir casas para os nossos trabalhadores. Parte será emprestada através de financiamentos, mas parte também será repassada a fundo perdido. E nada se faz.

E o dinheiro que o santo povo brasileiro tirou do seu bolso, do seu contadinho, e mandou para cá?
Cadê tal dinheiro? Era dinheiro para o povo, assim como as outras doações eram para o povo – e sei que tem gente jogando caminhão de doação em beira de estrada porque já não há onde guardá-la. E o meu povo, a minha gente trabalhadora e construtora de Blumenau, a comer lavagem de porco e a usar roupas sujas de menstruação e a não ter acesso a sabonetes, onde há muitos milhares esperando para serem usados?

E tem mais: semana que vem, dia 30.01.2009, rua dos abrigos.

Então ontem o povo foi para a praça, foi pedir explicações e justiça. Eu estava lá de três formas: como observadora, pois sou uma escritora; como militante dos Movimentos Sociais, e como desalojada também. Havia centenas de pessoas diante da prefeitura pedindo justiça, e o prefeito fez o que é de praxe em tais horas: sumiu, se escafedeu. Mas aceitou marcar uma audiência para a próxima terça.

Terça já vai ser dia 27, tão perto do dia 30! Será que é tudo uma questão de empurrar com a barriga? Sei que os nossos trabalhadores vivem grande indignação e não tem o porte de quem se humilha pedindo – a atitude daqueles homens, mulheres e crianças que constroem Blumenau era de digna solicitação de direitos, e eu estava lá e vi tudo. E também me lembro das tantas mensagens que recebi e dos tantos telefonemas que vieram até mim dizendo coisas assim: "Tirei o pouquinho que me era possível e depositei para Blumenau" ,"Depositei 20.000,00 reais para ajudar vocês", e assim vai. O meu telefone, depois que voltou a funcionar, não parava de tocar: era gente solidária de todo o Brasil, e de Cabo Verde, e de Portugal, e de Londres, e da Irlanda...

Toda essa gente merece satisfação: desde aquele humilde baiano que vi na televisão, depositando o seu troquinho de quem ganha salário mínimo, até aqueles que fizeram grandes doações – como também os nossos trabalhadores, os mais espoliados dos espoliados, sem a menor perspectiva do que lhes vai acontecer.

É hora de obtermos respostas, e muito rapidamente. Eu, por exemplo, fiz meu cadastro de desalojada no dia 16.12.2008 – mais de mês, portanto. Deixei lá o endereço onde estou, o telefone, o endereço eletrônico – e até este momento nem uma vezinha alguém me disse a mínima coisa. Imagino que alguém ao menos deveria dizer: "há que esperar o final das chuvas para se fazer alguma coisa. A senhora, por favor, tenha paciência!" – mas nem isto.
Se não dão satisfação a mim, conhecida como escritora bocuda, que publica em diversos continentes, o que algum dia dirão aos trabalhadores que constroem esta cidade? Decerto dirão algo assim:
- Sai daqui! Passa! Ligeiro! Senão vai ter cadeia! Seus arruaceiros!

E àquelas pessoas que doaram, e doaram, e doaram... estava na hora de alguém contar como as coisas se passam”.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

"Então é Natal..."

"Então é Natal e o que você fez?
O ano termina e nasce outra vez".

Fim de ano e novamente todas aquelas reflexões costumeiras desta época vêm à tona. Às vezes fico me perguntando se elas vêm mesmo, se todo mundo é assim. Será?

Dizem que todo o fim é um recomeço e que está em nossas mãos fazermos o que quisermos virar realidade. Então, ‘se é assim que a banda toca... vamo que vamo”.

São tantos sonhos, tantos desejos para o novo ano. Particularmente eu desejo PAZ a todo mundo. Nunca pensei muito sobre esse lance de paz. Ou melhor, nunca tinha me aprofundado na questão.

Ok, esse ano eu o fiz. Não vou entrar no mérito da guerra civil em que vivemos ou outros problemas que bem conhecemos. Hoje eu só quero desejar que todos, SEM EXCEÇÃO, tenham a oportunidade de sentir aquela PAZ interior, aquela que faz tudo ficar mais leve e colorido, que atrai as boas energias e que nos permite refletí-la para todos os lados. Acho que essa PAZ que vem lá do fundinho é a mola propulsora de tudo e é o que deveria fazer esse mundo girar.

Então, pense um pouco sobre como anda a sua PAZ e procure encontrá-la neste 2009. Não estou dizendo que essa é uma tarefa simples ou complicada. Cada um sabe de si. Mas acho que encontrá-la fará um bem imenso primeiramente a você e as conseqüências disso serão sentidas por todos. A FELICIDADE que transmitimos pelo mundo está na PAZ que temos dentro da gente. É isso o que eu sinto e desejo, mais uma vez, para todas as pessoas e para mim também. Encontrar a nossa PAZ já é um grande adianto.

Feliz Natal e um 2009 cheio de coisas boas e muita paz no coração!

Cheers!

domingo, 14 de dezembro de 2008

"Mais do mesmo..."

Cumprindo a meta de um post por semana...

Não tenho como não falar sobre a tragédia que ocorreu no meu estado, justamente uma semana após a minha chegada. Tá bom, o assunto está batido, mas como catarinense orgulhosa que sou, este é o meu dever! ;)

O caos decorrente destes meses de chuva e um final de semana de verdadeiro dilúvio foi imensurável. Entretanto, como em todas as coisas da vida (creio eu), tudo tem um lado positivo. Nesse caso nem teria como chegar a tanto, mas o fato é que por isso eu peguei um freela super legal e logo depois um trabalho que tem me exigido muito, mas que também é muito compensador.

Andei com água até o quadril pelas ruas de Itajaí, quando a cidade ainda estava 80% submersa. Participei da coletiva com o presidente Lula. Vi de perto como muitas famílias estavam arrasadas por perderem tudo e também o que o oportunismo é capaz de fazer. Muita, mas muita gente saqueando lojas. Pessoas que foram até a parte seca de carro e lá pagavam para que outro lhes trouxesse um carinho cheio de wisky, cerveja e afins. Bem triste mesmo. Morros que faziam parte do cenário local e que agora simplesmente desapareceram. Acreditem: isso é incrivelmente chocante!

Agora é hora de reconstruir. Não pensem que a situação aqui é de guerra. Não é verídico. Tenho ido muito a Blumenau, Ilhota, Gaspar, enfim, todo o Vale do Itajaí (região mais atingida) e realmente as ruas estão sujas daquela poeira vinda do barro seco, restos de casas se espalham pelo caminho e ruas estão cheias de entulhos e buracos. Mas também muita coisa está de pé, principalmente a força de vontade dos meus conterrâneos. Isso é lindo e emociona de verdade.

O que me preocupa, além dos flagelados, é a economia. A indústria foi atingida em cheio com a explosão do gasoduto e a destruição do Porto de Itajaí. Fora isso, tem o turismo. Eu não acredito que será muito afetado porque as praias continuam belíssimas e está tudo em ordem para essa temporada 2009. Mas talvez o setor também sinta um pouco. Veremos...

O curioso é que a ajuda virou um mega problema. Toda a solidariedade dos brasileiros (lindo demais!) acabou causando um ligeiro transtorno aos centros de distribuição, que não conseguem escoar os donativos. Ainda tem a questão de que algumas pessoas viram na desgraça uma ótima oportunidade de se desfazer de roupas, calçados e brinquedos sem qualquer condição de uso. Então são dois os recados: ninguém precisa de mais lixo! E outra: Sei que muita gente ainda quer ajudar e nós precisamos MUITO disso. Mas pensem em investir em moradias, na reconstrução de ruas, essas coisas. É uma sugestão de quem está vendo tudo de perto. Juntem amigos e invistam na reconstrução de fato. Hoje são mais de 33 mil catarinenses desabrigados e desalojados. Uma casa popular custa em média R$ 15 mil. Procurem as prefeituras do Vale e invistam em algo que ajudará mais do que tudo nesses tempos difíceis e, além disso, tenham a segurança de saber onde o seu dinheiro está sendo investido.

Pensem sempre que são famílias como as suas que perderam tudo. A desgraça não selecionou classe social... foi geral mesmo.

Uia! Papo brabo!

Para descontrair um pouco...

Nestas minhas semanas de Brasil, em meio a tanta correria, peguei ônibus duas vezes e me senti uma idiota. Primeiro por perguntar ao caixa se com aquela quantia que eu havia lhe dado conseguiria chegar ao centro da cidade. Depois por ter que ligar para a Kerita e perguntar se eu conseguiria pagar a viagem dentro do ônibus, já que a fila estava muito longa... hauhuaha

Plus: As coisas por aqui estão muito caras! Meu Deus!

É isso. Boa semana e na próxima prometo um post mais light, ok?

Cheers!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nasce o rebento!

Primeiro dia do blog mais esperado do ano!

Explico: Há um ano atrás fui para a Irlanda e sempre quis muito escrever minha experiência num blog. Os textos foram escritos, mas o nome do blog me encucava. Já tive outro endereço virtual, mas dessa vez queria algo diferente do meu nome, alguma coisa que - ainda que apenas para minha impressão pessoal - servisse de refúgio à minha identidade e me fizesse mais corajosa ao expor meus zilhões de pensamentos, impressões e idéias.

Ou seja, a gestação do blog foi longa, mas agora encontrei o nome ideal (e quem me conhece pode se perguntar: mas por que somente agora, se ela adora essa frase? Sabem quando a coisa está na nossa frente e não percebemos? É a explicação mais plausível).

Cheguei à 'minha' Ilha amada (Floripa) há pouco mais de duas semanas e já estou fervilhando de trabalho e novas experiências profissionais. Tipo presente de Natal inesperado, mas MUITO bom! Meu segundo post será sobre isso e a tragédia que acomete meu estado. Agora tenho que ir porque a labuta me chama.

Textos sobre a Irlanda e a Europa? Claro que vão rolar, porque isso é um blog e não tem toda aquela necessidade do factual. Ah, exatamente pelo mesmo motivo, não confundam essa ferramenta com um diário, ok? Nunca fui boa nisso. Mas me comprometo a escrever, pelo menos, uma vez por semana.

Quem quiser me acompanhar em minhas viagens, seja muito bem-vindo!

Tenho desejos maiores! Porque eu quero sempre mais da vida, de tudo... sempre! Afinal, a felicidade é o limite! ;)